José Mayer: A arte de ser irresistível

Aos 66 anos, José Mayer é um dos nomes mais marcantes da teledramaturgia brasileira. Dono de uma carreira sólida e versátil, ele representa o exemplo de quem sonhou em ser ator e persistiu até conquistar seu espaço. Galã? Isso, para ele, é apenas um detalhe de uma trajetória muito maior.

O Sonho de Ser Riobaldo em Grande Sertão: Veredas

Sob a luz dos estúdios e o som da claquete se fechando, José Mayer relembra um episódio marcante de sua carreira. A emoção transparece na voz e no olhar, quando fala sobre um dos papéis mais desejados de sua vida: Riobaldo, de Grande Sertão: Veredas, clássico de Guimarães Rosa.

“O maior sonho da minha vida era fazer o Riobaldo, papel que foi dado ao meu querido Tony Ramos. Eu, mineiro, fascinado por Guimarães Rosa, sempre tive comigo que um dia seria o Riobaldo na televisão.”

Anos depois, uma revelação trouxe sentimentos mistos ao ator. Durante um encontro com o maestro Julio Medaglia, responsável pela trilha sonora da minissérie, Mayer descobriu que o autor da adaptação, Walter Jorge Durst, o queria no papel de Riobaldo. Mas foi vetado pelo diretor Walter Avancini, que alegou:

“Você tem o olho muito pequeno.”

José Mayer sorri, mesmo após tanto tempo, e conclui com serenidade:

“Como é a vida… Vinte anos depois fui saber disso.”

De Minas Gerais Para os Palcos e Telas

José Mayer Drumond nasceu em São Domingos do Prata, Minas Gerais. Ainda menino, mudou-se com a família para Congonhas do Campo, onde ingressou no seminário redentorista.

“Ali recebi uma formação holística, onde conheci a arte. Foram sete anos e meio estudando, fingindo que ia ser padre, mas na verdade eu era um ator intramuros.”

Em Belo Horizonte, trocou o seminário pelo curso de Letras e Filosofia e encontrou no teatro sua grande paixão. Sua estreia no palco foi em 1968, o início de uma carreira que chegaria a mais de 45 anos.

A Imagem do Galã e os Papéis Marcantes

Mayer não nega o rótulo de galã, mas credita essa fama aos personagens que interpretou — muitos deles homens sedutores ou intensos.

“Acho que são os personagens. Eu fiz tantos papéis interessantes, sedutores, com essa função romântica. Talvez o meu jeito de olhar, meu tom de voz, meu movimento inspirem essa impressão de masculinidade.”

Sua carreira inclui títulos icônicos da TV Globo, como:

  • Bandidos da Falange (1983) – seu primeiro grande papel.
  • Tieta (1989) – como Osnar, papel que lhe rendeu o Troféu Imprensa de Melhor Ator.
  • De Corpo e Alma (1992) – viveu Caíque, personagem que exigiu dedicação ao ponto de Mayer morar durante um mês em um casebre no interior da Bahia para se preparar para o papel.
  • Agosto (1993) – baseado na obra de Rubem Fonseca.
  • Laços de Família (2000) – o impetuoso Pedro, criador de cavalos.
  • Presença de Anita (2001) – Fernando, escritor envolvido com a jovem interpretada por Mel Lisboa.
  • Mulheres Apaixonadas (2003) – o médico mulherengo César.
  • Páginas da Vida (2006) – Gregório, par romântico da personagem de Natália do Vale.
  • Viver a Vida (2009) – Marcos, casado com a modelo Helena, vivida por Taís Araújo.
  • Saramandaia (2013) – Zico Rosado no remake da novela.
  • Império (2014) – Cláudio Bolgari, personagem que gerou debates sobre amor homossexual na TV brasileira.

Versatilidade Além da Atuação

Além de atuar, José Mayer também atuou como produtor, diretor e cenógrafo. O ator tornou-se figura conhecida não apenas pelo talento dramático, mas também pela presença magnética que conquista plateias e telespectadores.

Fiel ao Sonho de Menino

Mesmo após décadas de carreira, Mayer não perde o entusiasmo e a gratidão por ter seguido seu caminho artístico.

“O que mais me agrada na história da minha carreira é o fato de ter sido fiel ao meu sonho de menino, que sempre quis ser ator.”

Se a vida de ator tem seus altos e baixos, José Mayer prova que persistência e paixão podem levar um menino mineiro a se tornar um dos maiores nomes da dramaturgia brasileira. E, mesmo com tantos personagens vividos, ele garante:

“Ainda há muito a fazer nesta vida.”

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